Pecador #01 - Entrevista com o Diabo
Um prólogo para quem ainda acredita que pode resistir à tentação sem conhecê-la.
🎶Leia enquanto escuta: Me and the Devil de Soap&Skin.
O que você está prestes a ler não é ficção. É transcrição. Crua. Íntima. Inquietante. Real demais. Com ele. Sim, ele mesmo — o nome que ninguém gosta de dizer, mas todo mundo invoca na hora errada.
E não, eu não vou te contar como consegui isso. Não por arrogância — mas porque, se você tentar, pode ser a última ideia “genial” da sua vida. Tem gente que lê Nietzsche e já acha que pode bancar o esperto com o Inferno. Acredita em mim: não pode.
Eu não me acho especial. Não sou algum santo de rodapé evangélico com selo dourado de aprovação celestial. Sou só um homem curioso, teimoso e com uma vontade mórbida de ir até o fim — mesmo que o fim me olhasse de volta.
Agora, deixa eu te explicar uma coisa. Encarar o Diabo não é como nos filmes. Não tem enxofre, não tem pentagrama, não tem possessão em latim. Encara-lo é como encarar o espelho. Sem filtro, sem edição, sem as desculpinhas que você conta pra si mesmo na madrugada. E, meu caro, isso dói mais que esbarrar o dedinho no móvel da sala às três da manhã. Mas antes agora do que no Dia do Juízo, quando não vai ter mais roteiro, edição ou segunda chance.
Era sábado. Nublado. O tipo de manhã em que até o sol parece desconfiar do que vem por aí.
A cafeteria, modesta e de esquina, exalava o cheiro de café queimado e pão amanhecido. A ansiedade me consumia por dentro. Mexia no gravador analógico com força, rabiscava na caderneta, o café já havia acabado, o prato só com farelos, e a balconista mal-humorada.
Ansiedade? Não. Aquilo era pânico com pretensões literárias. Eu rabiscava qualquer porcaria na caderneta, o café já tinha esfriado, e a balconista me odiava sem nem me conhecer.
Ele chegou pontual. Claro. O mal nunca atrasa — só chega disfarçado.
Elegante. Belo de um jeito que desconforta. Androginamente simétrico, como se Caravaggio e Da Vinci tivessem feito um pacto para esculpir a tentação em carne viva.
Não pediu nada. Claro que não. O ambiente já era dele.
— Não sabia se viria — eu disse, tentando parecer mais corajoso do que minha voz permitia.
Ele sorriu. Aquele sorriso. O que não toca os olhos.
— Jamais recuso um convite, meu caro. Mesmo aqueles que não são para mim.
Deboche. Sempre o deboche. O combustível do Inferno.
Liguei o gravador escondido no bolso. Folheei o caderno. Tentei encarar seus olhos. Não consegui. Era como olhar o fundo de um abismo que já sabia seu nome completo.
— Quero saber como posso derrotá-lo — disse, mais com a boca do que com a alma.
Ele riu. Uma risada educada. Refinada. Como quem saboreia um bom vinho feito de heresias fermentadas.
— Crer no Cara lá de cima já não é o bastante?
— Pra mim é. Mas pra alguns…
— Ah... os mornos. Meus preferidos. Descrentes de domingo. Ateus de conveniência. Cristãos Nutella. Deliciosos.
Fez uma pausa. Me estudou como um gato estuda o rato que ainda não sabe que está morto.
— Você quer salvá-los. Que bonitinho.
— Não me enrole, Diabo. Quero respostas práticas.
Ele apoiou o queixo nas mãos, interessado como quem está prestes a mexer a primeira peça num tabuleiro que já venceu.
— Então vamos jogar. Sete entrevistas. Cada uma com um dos meus demônios. Cada um deles encarna um pecado. Se resistir a ouvir sem se render, se conseguir extrair verdade sem se corromper... eu te dou a chave.
— Sete pecados…
— Sete demônios.
— Sete entrevistas?
— Sete provações, meu caro, que serão, infernais.
E se levantou como um ator encerrando o primeiro ato de uma peça que ele mesmo escreveu.
— Espere! Ainda não terminamos!
— Boa sorte, jovem Pardal. Nem todo mundo volta igual depois de conversar com o Inferno.
E sumiu. Com um piscar de olhos. Estava sozinho. Gravador ligado. Coração aos berros.
Foi assim que começou. Tudo por causa de uma ideia boba de criar conteúdo e ganhar engajamento. Terminei com sete entrevistas. E um gravador cheio de verdades que você não vai ouvir no culto de domingo.
Mas entenda uma coisa antes de continuar: Isso aqui não é apologia. É preparação. Eu quero que você entenda cada pecado. Quero que reconheça a voz deles. Pra que, quando falarem com você — e eles vão —, você já esteja com a espada da Palavra na mão.
Se decidir continuar, faça uma oração. Porque depois que você começa a conversar com o Diabo...
...ele começa a responder.
"Pecador" é um projeto pessoal de ficção que busca refletir, com temor e criatividade, sobre temas cristãos — sempre com o desejo sincero de edificar a igreja de nosso Senhor em meio às sombras de um mundo em queda.
Obrigado por caminhar comigo até aqui. Que a graça e a paz de Jesus Cristo te sustentem até a próxima quinta, ao cair do sol.
Permaneça firme. E até logo.
AHHHHH QUE INCRÍVEL! Já estou super empolgada para as entrevistas.👏🏻